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quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Atos de Fé


_Então, Professor, oque achou?
_É... preciso admitir que é uma ideia interessante. Então Peter acha que é um campo?
_O senhor imagina bem o frisson que isso causou lá no pessoal da teoria gravitacional?
_Bom, no mínimo isso muda tudo.
_Sem dúvida. Um campo que permeia todo o universo, e cuja interação com algumas partículas dotaria estas partículas de uma propriedade que nós entendemos e medimos como "massa". Difícil vai ser bolar uma analogia capaz de explicar pra todo mundo o funcionamento desta interação...
_E as partículas sem massa...
_... Não interagem com este campo. Por isso atravessam o espaço à velocidade da luz!
_Sempre achei um pouco inadequado chamar C de "Velocidade da Luz". É como se fosse uma propriedade do fóton que outras partículas estão copiando... mas, digressões à parte, também seria uma boa explicação para recaucitrantes como o Neutrino.
_Sim e o senhor viu as equações? Se me permite dizer, sempre achei o Modelo Padrão um tanto... deselegante, entende o que eu digo?
_Entendo. Parece que está faltando alguma coisa. Até isso corrobora com Peter Higgs.
_Para ser coerente com a teoria quântica, um campo, mesmo o campo de Higgs, precisa estar associado à uma partícula. Como o foton está para o campo eletromagnético.
_Um boson. E quando Higgs acrescenta essa décima sétima partícula, as equações do modelo adquirem esta "elegância" que você sente falta.
_Exatamente, Professor. É no mínimo tentador. Tão tentador que os californianos estão tentando recriar o "Boson de Higgs" no Tevatron.
_"Boson de Higgs"... Peter deve ter gostado do nome. E você acha que o Fermlab vai conseguir?
_Duvido. é pequeno demais. Digo, o Tevatron.
_E pelo tom das palavras nesta tua última frase, você parece saber o tamanho necessário do colisor de hadrons capaz de recriar este pequeno monstro...
_Pra ser sincero andei gastando um tempinho com as contas do Sr. Higgs, sim. E, bom, o boson precisaria ter uma massa descomunal... E portanto teria ocorrido de forma natural apenas em uma pequena fração do segundo após o Big Bang.
_Então teríamos que recriar o Big Bang dentro deste hipotético acelerador?
_Em termos práticos, alguma coisa desse nível. Seríam necessários sete teraeletronvolts, aproximadamente.
_Fiiiiu... Isso daria um comprimento total de:
_Hum, hum, bem... vite e sete kilômetros, Professor. Digo, o comprimento total da circunferência do acelerador.
_(!!!) Você tem ideia do dinheiro que custaria uma máquina dessas?
_É, andei fazendo umas perguntas... Cerca de dez bilhões de dólares. Dez bilhões, por uma partícula. Claro que enúmeras outras linhas de pesquisa poderiam ser maravilhosamente beneficiadas pela máquina. Muita gente aqui no CERN já fala na construção de um acelerador que batesse o Tevatron em tamanho e potência.
_Mas sete teraeletronvolts? dez bilhões de dolares? Seria preciso que toda a comunidade científica demonstrasse boa vontade para com a teoria do campo de Higgs.
_Mais do que isso, Professor. Seria preciso uma dose descomunal de pura Fé...

Essa conversa é apenas uma alegoria literária. Mas pode ser que uma parte ou outra tenha se repetido nos corredores do Centro de Pesquisas Nucleares da Suiça. De fato o Super Colisor de Hadrons, ou LHC, foi construído. E no início de 2010 a marca de 7 teraeletronvolts foi obtida na colisão de dois prótons. Uma concentração de energia capaz de gerar uma enorme quantidade de partículas, que foram coletadas pela primeira vez nos experimentos construídos ao longo do super acelerador. A poucas semanas atrás, uma equipe de cientistas do CERN foi à público anunciar que alguns traços em faixas energéticas bem precisas foram detectadas. Mas aínda será necessário um ano de novas interpretações para decretar se o Higgs existe ou não. Se ele existe, então o conhecimento que temos sobre o funcionamento do nosso universo terá atingido uma nova etapa, uma vitória tão importante quanto a confirmação da Teoria da Relatividade Geral. Talvez maior. Senão, então a física volta à estaca zero e não conhecemos assim tão bem o mundo. A maioria dos cientistas envolvidos no projeto LHC (alguns brasileiros inclusive), se sentem tão excitados com a ideia de não achar o Higgs, quanto com a hipótese de que ele exista. Isso seria uma oportunidade de fazer novas perguntas e outras perspectivas de resposta podem se abrir. A importância do Boson de Higgs é tão grande, que a mídia o está chamando de "Partícula Deus"!

Este esforço descomunal, tanto em termos financeiros como do tempo e trabalho duro de tanta gente em busca da confirmação de uma teoria, só é possivel por causa da Fé. Incrivelmente, a capacidade do homem de ter Fé fornece a energia para que consiga ober o conhecimento para tornar a Fé irrelevante. Para que o "Eu acredito" seja substituído pelo "Eu sei". Mas o "Eu acredito" consegue o dinheiro, a mão de obra, o tempo e o empenho. Mesmo com o risco (delicioso, até) de um "Eu não sei", no final das contas. Muitas coisa são conquistadas pela energia da Fé. Já ví muita gente mudar completamente de vida, muitos objetivos inalcançaveis serem pulverizados e muitas coisas quase impossíveis acontecerem. Por causa da Fé. Coisas boas e coisas ruins. Da libertação da Índia por Mohandas Karamchand Gandhi, ao ataque à Nova Yorke por Usāmah bin 'Awæd bin Lādin. Da comoção mundial pelo nacimento de Jeshua ben Joseph, o Natal, até as guerras imortais entre seguidores de profetas diferentes. A própria Religião, falando de forma genérica, atinge um poder quase absoluto por causa da capacidade das pessoas de ter Fé. E mais, a necessidade de ter Fé.

Eu não me lembro quando eu comecei a perder a fé religiosa. Também não me lembro de quando exatamente ela se foi de vez. Mas o fato é que eu percebo todos os dias a falta que ela me faz. É muito confortante acreditar em algo maior, que te protege e te mostra um caminho. Seja verdade ou não. É muito bom ter a certeza de que não é perecível, de que a vida é maior que a existência física. Dá força para lutar contra os dissabores e obstáculos. Pessoas que tem fé em algum tipo de divindade de sentem imunes a dor da vida. E as vezes parecem que são realmente. É uma pena. Mas como diria o Professor Alvaro de Rujula, Cientista do CERN, um dos mais eminentes membros da equipe do LHC: "A evolução vem quando se bate contra a parede e se percebe que deixamos de entender alguma coisa.". Se por algum motivo eu percebí que aquilo em que eu acreditava não pôde ser encontrado, isso significa que novas perguntas podem ser feitas. E novas respostas podem vir. O importante é que eu posso sempre encontrar um motivo para ter Fé.

Para Marcelo, que morre de tédio ao ouvir falar do Higgs, para Fabrícia que me ouve incansavelmente, para Josy que tanto lutou para me amar como sou e para Nikita, pela melhor mensagem de Natal de todas!

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

A Beleza para ver e sentir


O sol caia atrás de uma névoa fina no horizonte, num céu quase sem nuvens, agora tomado de um laranja brilhante e morno. A primavera cobria as colinas de pétalas vermelhas, amarelas e brancas, pontilhando o verde claro da relva. Uma arvore idosa, silhuetada contra o ocaso, emoldurava a cena. E sobre um tapete de folhas caídas estava ela, sentada sobre os tornozelos com os longos cabelos castanhos avermelhados ondulando levemente na brisa, uma grande flor vermelha adornando sobre a orelha esquerda. Dentro de um vestido escuro e vapososo seu corpo delgado e elegante se deixava desenhar voluptuosamente em movimentos suaves mas firmes. Ela se vira ao me ver chegar e me olha com os olhos castanhos escuros meio apertadinhos por causa da luz. Abre um enorme sorriso! O vento sopra mais forte levantando as folhas e bagunçando o cabelo dela. Ela rí deliciosamente, tira a flor do cabelo e estende em minha direção. Eu chego mais perto, pego a flor, abraço ela pela cintura e sinto o perfume tão familiar do cabelo dela, quando ela pousa a cabeça no meu peito. Sentamos juntos sob a arvore e ela se deita no meu colo, no momento em que o sol termina a sua descida, para nosso deleite. Ele desaparece por trás das arvores distantes, deixando um espetáculo de traços luminosos que irradiam em direção ao céu escuro, onde já se podem ver as primeiras estrelas...

Há... a beleza! Não há nada capaz de atrair mais o ser humano do que a beleza. E cada um de nós tem a sua própria noção subjetiva e particular de beleza. Cada um de nós vê a mesma cena de formas totalmente diferentes. Somos capazes, individualmente, de enxergar a beleza onde todos à nossa volta passam indiferentes. Mesmo aquilo que é feio e repulsivo para uma maioria, aos meus olhos pode ser belo. O mundo ao redor está repleto de verdadeiros paradoxos de beleza. Um vulcão em atividade, vomitando ferocidade e morte, se visto de longe é dono de uma beleza solene e hipnotizante... As enormes e enfadonhas planícies lunares, inter cortadas de bacias de impacto sobre o basalto escuro, quando vistas da Terra podem ser a mais inspiradora das luas cheias... Uma mariposa insípida e por vezes asquerosa, que causa incômodo quando voa sobre nossas cabeças, quando filmada em câmera lenta mostra a mesma graça de um beija flor... No mundo microscópico ou na mais vasta imensidão do universo, há sempre algo que nos chama a atenção pela beleza que demostra. A estrutura cristalina de um mineral, a explosão de uma supernova, as sinapses elétricas em um neurônio, a colisão de duas galáxias. Uma criança em sua pureza e despreocupada alegria ou a nebulosa planetária de uma estrela agonizante se distendendo sobre o espaço. Só o que precisamos fazer é parar de vez em quando para observar.

A humanidade em si é um paradoxo neste sentido, oscilando entre a beleza mais sublime e a mais estarrecedora feiura. Uma mesma pessoa pode ser bela como uma flor quando olhada de um angulo e pelo outro ser um espectro de purulência. Linda por fora e feia por dentro. Horrível por fora e bonita por dentro. Capaz de um gesto de compaixão ou de extrema violência. Nossa complexidade é as vezes incompreensível. E nossa única saída é preservar o que é belo, em nós, naquilo que temos e naquilo que fazemos. Procurar sermos belos aos olhos dos nossos semelhantes, não importando o quão feios algumas pessoas possam nos taxar. Alguns somos afortunados por viver rodeados de beleza. Falo da beleza que importa de verdade, daqueles que como eu têm uma linda família, uma belíssima coleção de amigos e uma companheira que é a pura descrição da beleza. Nós devemos nos sentir gratos todos os dias e valorizar a beleza de que desfrutamos. E quando a vida nos parecer feia, lembrar que tudo sempre muda na vida e o maior agente promotor da mudança somos nós mesmos.

Vamos aprender a reconhecer, respeitar e estimular a beleza. A vida tende a ser muito mais feliz.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Eu, Tu, Ele = Nós

"O osso do teu dedo ligado ao osso do teu pé,
O osso do teu pé ligado ao osso do teu tornozelo,
O osso do teu tornozelo ligado ao osso da tua perna,
O osso da tua perna ligado ao osso do teu joelho,
O osso do teu joelho ligado ao osso da tua coxa,
O osso da tua coxa ligado ao osso do teu quadril,
O osso do teu quadril ligado ao osso das tuas costas,
O osso das tuas costas ligado ao osso do teu ombro,
O osso do teu ombro ligado ao osso do teu pescoço,
O osso do teu pescoço ligado ao osso da tua cabeça,
Eu ouço a palavra do senhor!"

Segundo "O maior espetáculo da Terra" de Dawkins, esse é o trecho de um cântico inspirado no episódio do "Vale dos Ossos Secos", do livro do profeta Ezequiel (cap. 37). E ele (Dawkins) completa dizendo que essa estrutura de ligações dos ossos é comum não só a todos os mamíferos, mas a todos os vertebrados, de todos os tempos, vivos ou fósseis. E esse é só um entre os muitos e muitos indícios que nos levaram a perceber que todos os vertebrados tiveram um ancestral em comum. Mais além, vemos que todos os animais tiveram um ancestral em comum. E muito mais além, todos os reinos se encontram, no centro do gráfico de Hillis (http://ensinarbiologia.blogspot.com/2010/01/grafico-de-hillis-tree-of-life-download.html que apresenta apenas 3 mil espécies dentre as dezenas de milhões já conhecidas pelo homem ). Desta maneira, de alguma forma somos parentes muito, muito, muito distantes das samambaias, por exemplo. E este parentesco é bem semelhante ao que tenho com um de meus primos de terceiro grau, tataraneto da mesma tataravó que eu. A samambaia seria então ta*10^n raneta de uma mesma ta*10^n ravó que nós, para n igual a um número realmente bem grande, que eu realmente não sei! Do mesmo modo, os moluscos bivalvos são parentes nossos, um pouquinho mais próximos, com um n um pouquinho menor. Mais próximos ainda são as anchovas (deliciosas na beira da praia) e mais ainda as lagartichas. Para se ter uma ideia o DNA do rato é cerca de 70% igual ao nosso. Isso significa que nossa tataalgumacoisa em comum morreu (se extinguiu) a bastante pouco tempo na escala de tempo geológica. Já o chimpanzé, caramba, esse deveria participar todo ano da nossa festa de natal, porque tem 98,5% de concordância genética com a gente! E entre duas pessoas quaisquer do planeta Terra, a semelhança genética dos cerca de 2 km do DNA chega a 99,99%. Não importa se essa pessoa tenha nascido no Himalaia ou morrido no Império Asteca, se for homem ou mulher, se for anão ou albino. 99,99% iguais! Isso leva a raciocínios divertidos, como pensar que um homem negro pode ser geneticamente tão semelhante a um homem branco, do que o é em relação ao seu próprio pai! Será? Bom, estamos falando de uma margem tão pequena de diferenças que deveria, no mínimo, envergonhar qualquer iniciativa de estabelecer sub-classificações dentro da nossa especie Homo Sapiens. Que importância tem então a etnia? como estabelecer uma ordem hierárquica baseada no local de nascimento? nos aspectos culturais? porque eu deveria pensar que meus costumes são mais apropriados a um ser humano do que são os ritos sociais da tribo Yanomami? Ok, sou suficientemente diferente do elefante africano, mas e do esquimó? será que sou mesmo? E se essa onda de globalização continuar, em quanto tempo seremos todos membros de uma raça só? Em resumo, toda forma de apresentação da eugenia é um erro científico no mínimo muito óbvio. O ufanismo, o racismo, o machismo, o anti semitismo e tantos outros "bairrismos" sociais são fundamentados no mesmo princípio científico: NENHUM! Não há nada de diferente entre eu, você, ele e as outras pessoas do discurso. O engraçado é que a rede está repleta de ignorantes que pregam a segregação e o repúdio a minorias. Outro dia minha "Princesa" leu pra mim uma réplica muito longa e merecida, dirigida a um desses "eruditos", que me deu o tema deste post. E alem disso, me fez pensar: Eu não tenho orgulho da minha raça. Ninguém deveria ter tanto orgulho assim de sua raça. Porque a raça é uma coisa tão superficial... Eu tenho orgulho de ser IGUAL. E de compartilhar um lugarzinho lá no grande círculo. Tenho orgulho daquele serzinho, provavelmente unicelular, lá no centro do diagrama de Hillis, que um dia deu o primeiro pulso, nosso primeiro grande Avô! Devemos todos nos orgulhar é da Vida!

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Somos todos traidores de nossa própria causa.

No começo, era quente demais. Um dia, será muito frio. As vezes, os ingredientes necessários não puderam ser reunidos. As vezes eles estão lá, mas não se combinaram da maneira correta. Há lugares agitados demais e outros mais calmos do que deveriam. Eventualmente tudo leva a crer que aconteceu um dia, mas de alguma forma se perdeu. E logo depois vemos algo que pode levar as coisas a ocorrerem da forma correta. O fato é que, se olharmos em todas as direções do Espaço, em qualquer profundidade do Tempo, com quaisquer instrumentos de medida a coisa mais esquisita que vamos ver é a Vida! A Vida é de longe a coisa mais bizarra do Universo! ela simplesmente não combina com o Cosmos e seu temperamento violento, megalomaníaco e volúvel. O maior ser vivo da Terra pesa 190 toneladas. O buraco negro no centro da nossa galáxia tem centenas de milhões de massas solares e deve ter um horizonte de eventos menor que o perímetro da Avenida do Contorno! As proteínas se desnaturam ao chegar a mais de 50°C, mas no núcleo das estrelas o calor é de dezenas de milhares de Kelvin! Uma colisão a velocidade máxima de um carro popular pode nos matar, mas a Galaxia de Andrômeda, com suas 4 centenas de bilhões de estrelas iguais ou maiores que o Sol, está se aproximando de nós a 500 mil km/h! Existem catalogados no perímetro interno do cinturão de asteróides pelo menos uma centena de "pedrinhas" com potencial para destruir nossa civilização, mas os astrônomos estimam que nós conhecemos apenas 2% do que está lá em cima! Outro dia uma passou mais perto que a lua (Fonte: Edie Veder. Esse mesmo)! São muitas exclamações que poderiam reduzir nosso planeta a pó coloidal e são apenas uns poucos exemplos. Quando analisamos o Universo próximo com olhos críticos, é inevitável a conclusão de que, no mínimo, a Vida não é a prioridade. Observemos Jupter: Uma gigantesca bola de hidrogênio, quase uma estrela falida. Se a Vida fosse o objetivo primordial do universo, poderíamos dizer que o gigante gasoso não serve pra nada... E Mercúrio? Nas épocas do ano (local) de máxima aproximação do Sol a crosta chega a derreter! E Marte: um dia perdeu seu campo eletromagnético e o vento solar fritou a superfície e qualquer possibilidade de vida pré-existente. Olhando mais longe a Ciência até agora só descobriu umas poucas centenas de planetas extrassolares e pouquíssimos com a mais remota chance de vida: Este está muito perto da estrela, este está longe demais, este é muito pequeno, este não tem água, este passa uma parte da orbita dentro da estrela (como assim???)... Claro que isso é irrelevante diante de coisas grandiosas de verdade como por exemplo o "Ultra Deep field" a fotografia mais importante jamais tirada pela humanidade. Um dia, o telescópio Hubble apontou sua câmera comum, que capta a mesma luz visível que todos captamos com a câmera do celular, para um pontinho preto do espaço. Esse pontinho é do tamanho de um centésimo da área da Lua no céu e parecia ser só um pontinho preto comum. Mas após 11 dias de exposição, meses de voltas ao redor da terra, a fotografia revelou o número abominável de 10 mil galaxias! cada uma com centenas de bilhões de estrelas, cada uma uma chance de haverem planetas, cada um uma chance de haver vida. Tudo em um pontinho difícil de desenhar com a ponta de uma esferográfica. Então, é claro que a Vida existe em algum outro lugar, mas podemos classificar estes lugares hipotéticos em dois tipos principais: "Lá", muito, muito longe e "Aqui", bem pertinho. Não importa o motivo, a Vida existe aqui na Terra (Hó, que brilhante dedução!), apesar dos muitos reveses por que passou. De tempos em tempos a Terra tem um calafrio, uma febre, leva uma pedrada ou fica resfriada e pronto: Lá se vão centenas de milhares de especies vivas em direção à extinção. Hoje, vivemos em um período de rara calmaria, tudo sob controle, apenas um desastrezinho aqui, outro ali... Mas a Vida floresce como uma praga sobre a pele do planeta. Ela perdura, lutando contra todas as forças titânicas do Universo, que tentam dia após dia frita-la, explodi-la, congela-la, enfim, um inimigo e tanto. E todos os seres vivos lutam juntos, contra este colossal inimigo, cada um fazendo a sua parte para manter o tênue equilíbrio que da à Vida a robustez necessária para existir, apesar de sua fragilidade. Mas espere... Me enganei. Existe uma especie que tem se destacado muito em ações que visam exatamente a direção contrária! Um organismo vivo que tem colaborado ferozmente com os efeitos capazes de destruir a vida. Um procarionte que, de dentro pra fora, todo dia reduz um pouquinho a força que a Vida tem para se defender. Um vertebrado que caminha por todas as partes do planeta, minando o equilíbrio da Vida local e globalmente. Um mamífero que constrói a sua subsistência sobre a morte, a degradação, a sujeira e o envenenamento. Possivelmente um dos pouquíssimos seres inteligentes de todo o incomensuravelmente gigantesco Universo. E ainda assim um traidor: Nós!

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Você também se incomoda?

Você pode ter um emprego excelente. Mas não pode fazer todo o trabalho sozinho. Pode ter bastante dinheiro pra gastar, mas não pode comprar nada de si mesmo. Pode ter o melhor plano de saúde, mas será bastante complicado arrancar o próprio dente. Pode comer nos melhores restaurantes, mas normalmente não traz o prato da cozinha para sua mesa pessoalmente. Pode se achar independente, mas não é. Ninguem é. A cada momento nós estamos usando algo que outra pessoa produziu, sendo assistido por alguem, perguntando uma opinião, recebendo um incentivo... Nós só funcionamos em conjunto. Quando totalmente sozinhos, nós morremos. Quando na companhia de poucos, nós sofremos. Apenas em sociedade vicejamos, somos a especie dominante da Terra. Mesmo a inteligencia não seria diferencial relevante, se nós não nos tivessemos organizado em sociedade, nos beneficiando das especialidades de milhares e milhares de pessoas, cada qual uma pequena engrenagem em uma gigantesca máquina. Máquina que põe comida em nossa mesa, abastece nosso guarda-roupa, mantem nosso carro funcionando, cura nossas dores, nos diverte, enfim, transformam nossa existência em uma coisa chamada "vida". Evidentemente, nós também somos parte dessa máquina. De alguma forma nosso trabalho acaba contribuindo para o conforto de todas as pessoas da nossa comunidade e alem. De alguma forma, nós nos sentimos quites com o mundo a nossa volta toda vez que chegamos em casa após o expediente e nos sentamos na poltrona com um controle remoto, um chinelo e um drink. Atribuímos o nosso sucesso ao enorme esforço que nos levou àquela poltrona, às noites em claro na faculdade, aos dissabores do início da carreira profissional, ao suor derramado dia após dia. Somos cidadão de bem e contribuintes que merecem o conforto, a boa mesa, as bugingangas eletrônicas e o malte escocês. Podemos deitar no travesseiro e dormir sem consternações... Mas oque acontece quando não conseguimos um sono tranquilo? E se temos a senssação de que ha algo errado, uma injustiça gigantesca sendo cometida? E quando lembramos das famílias que nesse exato momento dividem uma refeição insuficiente, insalubre e rançosa, coletada do lixo e da mendicancia? E quanto àqueles que não têm casa e se espremem sob uma marquise durante várias noites chuvosas seguidas, umidos e mal aquecidos? E os doentes que não têm auxílio e simplesmente são obrigados a aceitar a dor, nos corredores do descaso? E os idosos abandonados que não esperam mais pela atenção dos seus semelhantes ou pelo respeito ou pela felicidade? Será que todas essas pessoas não se esforçaram o bastante? será que não quiseram colaborar e, por isso, não são merecedoras de uma vida mais confortável, limpa e quente? São todas perguntas que tiram o sono de quem tenha um mínimo de humanidade dentro de sí. A sociedade não é perfeita e acredito que jamais será. A exclusão é um efeito colateral previsível e cruel em nossa colônia humana, tão cheia de vícios, competição, intolerância, preconceito e ódio. Assistir ao sofrimento de pessoas iguais a nós e que, etimológicamente, mereciam a dignidade que temos, diminui bastante a sensação de "quitação" e dever cumprido no dia a dia de nossas vidas plenas e felizes. Parece que é preciso fazer mais do que cumprir nosso papel mecanicista em nossos nichos sociais. Há uma imperativa necessidade de tentar levar ao colega em apuros um pouquinho da saciedade e da tranquilidade de nossa própria privilegiada condição. E este é um impulso ao qual devemos ceder sempre, o de estender a mão, confortar e dividir. Porque o esforço, o trabalho e a honestidade nos retifica com a sociedade mas não é suficiente para nos tornar quites com a vida. Para pagar pela espantosamente afortunada oportunidade de viver, somos obrigados a nos indignar e agir, toda vêz que outra vida for maculada pela miséria, pela dor ou pelo abandono. Esse post é uma homenágem ao retorno do "Movimento EPC Solidário" e à possibilidade de ter uma segunda chance de participar, dividir, socorrer e melhorar a qualidade do meu próprio sono.

domingo, 27 de novembro de 2011

Oque fazemos do nosso tempo?

O universo existe a cerca de 14 bilhões de anos. A Terra iniciou sua formação entre os destroços do disco de acresção do Sol a alguma coisa perto de 4,5 bilhões de anos. Os primeiros vestígios de vida unicelular na Terra datam do Arqueano, a mais de 3,5 bilhões de anos. A meia vida do urânio, elemento usado comumente na datação das camadas geológicas é de 713 milhões de anos. A América do Sul vem se separando da África a cerca de 65 milhões de anos, desde o inicio da fragmentação da Pangéa, durante a extinção dos Dinossauros. Nossos primeiros ancestrais a merecer classificação entre os hominídeos foram os Australoptecineos, de 3,9 milhões de anos. O atual período geológico, o Quaternário da era Cenozóica começou a 1,8 milhões de anos. Os primeiros fósseis de Homo Sápiens foram datados em 160 mil anos, localizados na Etiópia. O carbono 14, usado para datar as amostras do nosso vovô etíope tem meia vida de 5730 anos. O império Romano Ocidental durou por mais de 900 anos. E a duração média da vida do cidadão brasileiro foi calculada pelo IBGE em 73,2 anos. 73,2 não milhões, não milhares, só "anos". SETENTA E TRÊS ANOS! O sol ainda será uma estável estrela amarela, fornecendo suporte à vida neste planeta por mais 4 bilhões de anos, mas destes nós iremos usufruir apenas e tão somente 73, descontados aqueles que já vivemos desde o nosso nacimento. Isso é pouco mais que um total de 38 milhões de minutos. Até agora este texto já levou mais de 28 minutos para ser escrito! Então eu preciso perguntar: Quanto vale a tua vida? Escolha uma unidade monetária qualquer e agora me diga, por quanto você venderia a vida? Se alguém conseguir responder à esta pergunta absurda, faça uma gentileza: divida este valor por 38 milhões. Você (bom, você é maluco!) acabou de determinar quanto vale cada minuto de uma existência. Se perguntarmos às pessoas, qual é o recurso mais valioso do mundo, acredito que alguns dirão que é o ouro, outros votarão no diamante, o petróleo deverá ficar bem cotado... Mas eu acredito que o tempo é o bem mais precioso que temos. O valor de um minuto é inestimável! um minuto é um tesouro que não deve ser trocado por bobágens. Sempre digo que o maior medo da minha vida é chegar aos 73 anos com a conclusão que eu venci na vida, que eu cheguei lá (sabem, aque tal 'Lá'? então...) e que isso custou "apenas" a minha vida toda! Terá sido o pior negócio da história. O que eu terei obtido? dinheiro? poder? fama? propriedades? totalmente irrelevante diante do fato de que daqui a 200 anos haverá no cinema a estreia de um filme que eu não verei, uma grande descoberta científica será feita e eu não saberei, a humanidade alcançará um novo nível tecnológico e eu não estarei lá para colaborar. Aquilo que a gente obtém fica para o futuro mas o futuro não é relevante para nós, ele não nos pertence. Tudo que temos é o presente e as lembranças do passado. São estes os bens que temos que colecionar, as boas lembranças! essas merecem ser compradas com o nosso mais precioso recurso, o tempo, medido na unidade monetária de mais alta cotação, o minuto. quero gastar vários dos meus minutos sentindo a brisa bater no rosto, observando o prazer da respiração. Ou olhando embevecido para o por do sol, ou tentando acertar aquela manobra difícil, ou dando gargalhadas na companhia de amigos, ou aprendendo uma coisa surpreendente... Haaa, e eu quero gastar um monte, mas um monte de minutos olhando para o rosto da mulher que eu amo, enquanto ela me presenteia com aquele sorriso secreto que ela só mostra pra mim. Aí eu vou levar para o meu túmulo um monte de lembranças boas, todas caríssimas, luxuosas e brilhantes. E então morrerei um homem rico, com 73 anos ou não.

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Diga-me uma única verdade...

A única verdade absoluta do universo é que verdades absolutas não existem. Elas são apenas mentiras pretenciosas, proferidas algumas vezes por má fé, mas em grande maioria filhas rejeitadas da mais displicente ignorância. Toda a nossa concepção da realidade é na verdade apenas um conjunto de interpretações extremamente superficiais dos estímulos que recebem nossos précarios sentidos. Têm como base um limitadíssimo pano de fundo experimental, compilado e tratado por um cérebro que se desenvolveu em um referencial infinitamente estreito de tempo, distancias, velocidade, temperatura... Não podemos nos livrar do pesado lastro daquilo que somos, quando tentamos entender o mundo a nossa volta. Evoluímos com a finalidade básica de sobreviver e isso significa que em uma escala de prioridades, acender uma fogueira é mais importante que interpretar a curvatura do continum. Pelo menos quando se possui um corpo perecível para alimentar e aquecer. Nossa raça emergiu da mais pura obscuridade intelectual a pouco tempo demais para que nossa capacidade de abstrair atingisse o nível necessário ao entendimento daquilo que é muitíssimo grande,  muitíssimo longe, muitíssimo antigo, muitíssimo quente... Simplesmente não somos aptos. Somos enganados diuturnamente. Nós sabemos, por exemplo, que o vermelho é apenas uma forma do nosso corpo interpretar um comprimento de onda captado por nossos sentidos e que em um mundo diferente, aquilo que aqui chamamos de "Vermelho Sangue", poderia ser o "Dó Sustenido"! Mas quando olhamos para a maçã ela continua vermelha e silenciosa e quando ouvimos o dó ele continua incolor. Não somos capazes de entender sequer a nós mesmos, nossos sentimentos, nossa comunidade, nossa história. Ficamos perdidos em superstições, teorias psicológicas, listas de regras e dogmas culturais. Nem conseguimos perceber nossa explícita pequenês. A maioria das pessoas tem tanto orgulho de sí mesmas, se acham tão melhores e mais espertas. Têm tanto a ensinar aos seus infelizes colegas, menos dotados de conhecimento... quando comungamos todos da mesma poça profunda e escura de ignorância. E isso significa o óbvio: que somos todos iguais. A diferença entre o mais sábio e o mais idiota é infinitesimal diante de todo o conhecimento ainda disponível. O saber de ambos tende a zero! Significa também que temos diante de todos nós a inestimável oportunidade de aprender um pouco mais todo dia. Dividir o que aprendemos, experimentar mudanças, olhar diferente para o mundo. Todo dia. É só mantermos a mente aberta e nós lembrar sempre de duvidar de verdades absolutas.