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quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Você também se incomoda?

Você pode ter um emprego excelente. Mas não pode fazer todo o trabalho sozinho. Pode ter bastante dinheiro pra gastar, mas não pode comprar nada de si mesmo. Pode ter o melhor plano de saúde, mas será bastante complicado arrancar o próprio dente. Pode comer nos melhores restaurantes, mas normalmente não traz o prato da cozinha para sua mesa pessoalmente. Pode se achar independente, mas não é. Ninguem é. A cada momento nós estamos usando algo que outra pessoa produziu, sendo assistido por alguem, perguntando uma opinião, recebendo um incentivo... Nós só funcionamos em conjunto. Quando totalmente sozinhos, nós morremos. Quando na companhia de poucos, nós sofremos. Apenas em sociedade vicejamos, somos a especie dominante da Terra. Mesmo a inteligencia não seria diferencial relevante, se nós não nos tivessemos organizado em sociedade, nos beneficiando das especialidades de milhares e milhares de pessoas, cada qual uma pequena engrenagem em uma gigantesca máquina. Máquina que põe comida em nossa mesa, abastece nosso guarda-roupa, mantem nosso carro funcionando, cura nossas dores, nos diverte, enfim, transformam nossa existência em uma coisa chamada "vida". Evidentemente, nós também somos parte dessa máquina. De alguma forma nosso trabalho acaba contribuindo para o conforto de todas as pessoas da nossa comunidade e alem. De alguma forma, nós nos sentimos quites com o mundo a nossa volta toda vez que chegamos em casa após o expediente e nos sentamos na poltrona com um controle remoto, um chinelo e um drink. Atribuímos o nosso sucesso ao enorme esforço que nos levou àquela poltrona, às noites em claro na faculdade, aos dissabores do início da carreira profissional, ao suor derramado dia após dia. Somos cidadão de bem e contribuintes que merecem o conforto, a boa mesa, as bugingangas eletrônicas e o malte escocês. Podemos deitar no travesseiro e dormir sem consternações... Mas oque acontece quando não conseguimos um sono tranquilo? E se temos a senssação de que ha algo errado, uma injustiça gigantesca sendo cometida? E quando lembramos das famílias que nesse exato momento dividem uma refeição insuficiente, insalubre e rançosa, coletada do lixo e da mendicancia? E quanto àqueles que não têm casa e se espremem sob uma marquise durante várias noites chuvosas seguidas, umidos e mal aquecidos? E os doentes que não têm auxílio e simplesmente são obrigados a aceitar a dor, nos corredores do descaso? E os idosos abandonados que não esperam mais pela atenção dos seus semelhantes ou pelo respeito ou pela felicidade? Será que todas essas pessoas não se esforçaram o bastante? será que não quiseram colaborar e, por isso, não são merecedoras de uma vida mais confortável, limpa e quente? São todas perguntas que tiram o sono de quem tenha um mínimo de humanidade dentro de sí. A sociedade não é perfeita e acredito que jamais será. A exclusão é um efeito colateral previsível e cruel em nossa colônia humana, tão cheia de vícios, competição, intolerância, preconceito e ódio. Assistir ao sofrimento de pessoas iguais a nós e que, etimológicamente, mereciam a dignidade que temos, diminui bastante a sensação de "quitação" e dever cumprido no dia a dia de nossas vidas plenas e felizes. Parece que é preciso fazer mais do que cumprir nosso papel mecanicista em nossos nichos sociais. Há uma imperativa necessidade de tentar levar ao colega em apuros um pouquinho da saciedade e da tranquilidade de nossa própria privilegiada condição. E este é um impulso ao qual devemos ceder sempre, o de estender a mão, confortar e dividir. Porque o esforço, o trabalho e a honestidade nos retifica com a sociedade mas não é suficiente para nos tornar quites com a vida. Para pagar pela espantosamente afortunada oportunidade de viver, somos obrigados a nos indignar e agir, toda vêz que outra vida for maculada pela miséria, pela dor ou pelo abandono. Esse post é uma homenágem ao retorno do "Movimento EPC Solidário" e à possibilidade de ter uma segunda chance de participar, dividir, socorrer e melhorar a qualidade do meu próprio sono.

3 comentários:

  1. Sentir-se incomodado com o incomodo do outro eh a forma mais pura de demonstrar amor ao próximo...
    A cada linha que leio aki, sinto como se todos os meus sentimentos estivessem sendo descritos por uma pessoa que está dentro de mim... Obrigada por me fazer ler e escutar as palavras q a minha boca e o meu coração tentam externar a mim mesma...

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  2. O desequilíbrio do nosso mundo é mesmo um mal necessário se pensarmos que só ao se sentir incomodado é que o ser humano (ou a maioria deles, e eu me incluo no pacote) anseia a melhoria. É o incômodo servindo de motivação, de incentivo para o sujeito reagir e sair da zona de (des)conforto.

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  3. Como sempre muito Foda suas palavras .. muito bom o blog

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