Postagens populares

domingo, 25 de março de 2012

Conheça-te a ti mesmo!


Eu tenho fome. Uma fome insaciável, que cresce a medida que eu tento mata-la. É a fome de conhecer. Às vezes é como se eu fosse uma lagarta, subindo pelo tronco de uma arvore. Aí eu chego a uma bifurcação entre dois galhos e penso: “depois que eu explorar este galho da direita, volto lá pra subir o da esquerda...”. Mas aí vem outra bifurcação e outra e outra e eu continuo subindo, mas sempre aflito para terminar cada um dos lados, pra eu voltar e subir os outros que vão sendo deixados para traz. Cada vez que se aprende uma coisa nova, sobre uma determinada propriedade do mundo, mais e mais perguntas vão sendo acumuladas à medida que uma única resposta se descortina. Cada nova camada de conhecimento é tão maior que a anterior que chego a perder o fôlego. Tenho a sensação de que a última camada é como uma singularidade às avessas: Um raio infinito de perguntas com uma densidade nula de sabedoria para respondê-las.
Mas apesar de saber que a empreitada é vã, que nunca vou saber tudo, continuo perguntando, lendo, vasculhando, horas e horas no Youtube, na Wikipedia, na Scientific America, na livraria ou simplesmente com os olhos fechados, pensando e tentando teorizar minhas próprias respostas. Tentar saber tudo é como uma brincadeira prazerosa, daquelas em que não se é muito bom, todo mundo ganha de você, mas não se consegue parar de jogar. E mais ainda, uma brincadeira fácil, farta e disponível em qualquer lugar. Para começar, todo mundo me ajuda a aprender um pedaço do todo. Cada vez que converso com alguém escuto e guardo algo de surpreendentemente elucidativo e sábio. Tudo que é escrito tem uma informação relevante, de um livro com 900 paginas ao rótulo de um refrigerante barato. A internet é um tipo de buraco negro da informação, que suga tudo o que todo mundo sabe e plota em 2D no horizonte de eventos da tela, em uma versão lúdica do principio holográfico de Leonard Susskind. E da pra acessar tudo, de um blog despretensioso como este até uma aula sobre física de partículas gravada na USP, na tela do aparelho de celular enquanto espero minha vez no consultório Odontológico. Aí ouço aquele barulho maligno e me pego digitando no Google: “como funciona o motorzinho do dentista”.
Quase todos os assuntos me interessam. Já passei meses lendo (e não entendendo quase nada) as teorias de Halking sobre os buracos negros. Já me empanturrei de biologia evolucionaria com Dalkins. Já devorei gigabites sobre a formação e evolução das galáxias. História do Império Romano, tectônica de placas, evolução mineral e geogênese, religião, programação neurolinguística, literatura, neurociência, mecânica da fratura, ótica, psicologia, filosofia... Tantos galhos, nos galhos tantas folhas e nas folhas tantas nervuras. Falta-me a memória e as informações vão sendo apagadas, para que novas sequencias sejam registradas ou simplesmente empilhadas como que por um trator. O cérebro não consegue sequer digerir o que seu apetite consome. E nos departamentos da minha mente os setores mais prósperos são o das perguntas e o da ignorância. Cada dia percebo um pouco mais a extensão do meu próprio desconhecimento. Espetacular!
Quando digo que quase todos os assuntos me interessam é porque recentemente descobri que um assunto em particular nunca mereceu minha atenção por mais que uns poucos segundos, em um dia de ócio criativo total. O assunto “Eu Mesmo” nunca me apeteceu. O que, se pensarmos bem é uma coisa muito esquisita, porque se trata da iguaria mais facilmente obtida, próxima das mãos. Entretanto era um sabor que jamais teve lugar em meu paladar pouquíssimo exigente, tamanha a pequenez que este tema me representava. Foi preciso um amigo querido, por acaso um excelente cozinheiro literal (dizem, pois jamais o submeti a esta prova), cozinhar metaforicamente o tema e servir ao meu cérebro em uma apresentação tão elaborada, que não resisti. Fartei-me, tanto quanto dos quitutes de sua amável mamãe.
Ora, quando li os resultados do teste simples que ele fez, fiquei atordoado com a tão perfeita descrição de mim mesmo, em uma coleção de detalhes que eu jamais pude montar sozinho. É como se eu tivesse me conhecido naquele minuto, como a uma ciência nova, recém-incluída no cardápio universal. Virei um apaixonado pela “Eulogia” e descobri o sabor de conhecer a mim mesmo. Percebi que isso me permitiria usufruir melhor do banquete da vida, aprender melhor, me relacionar melhor com o próximo, produzir mais e ser mais feliz. E olhando para traz, lembrando algumas frações do que já aprendi sobre as pessoas, me pergunto quantos não experimentariam a mesma surpresa que eu? Parece ser uma tendência nossa o foco no exterior, olhando sempre para fora, sem saber muita coisa do que acontece em nosso íntimo. Se alguém quiser uma opinião verdadeira sobre si mesmo, na maioria das vezes precisa perguntar a outra pessoa...
Então, o tema da vez agora sou eu mesmo. Uma brincadeira mais difícil, um tipo de informação com disponibilidade mais restrita, com mídia menos amigável. Mas um alimento muito nutritivo para a vida. Sugiro a você o mesmo prato autofágico. Está servido?

Um comentário:

  1. Meu amigo, esse processo de descobrir a si mesmo é magnifico e doloroso ao mesmo tempo, é extrair o verdadeiro "eu" e direcioná-lo tirando a venda dos olhos. Parabens pelo texto, ficou excelente.

    ResponderExcluir