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sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Perguntas sem resposta ou perguntas sem sentido?

 

 
Quem veio primeiro, o ovo ou a galinha?
Esta é um clássico absoluto. Ela é fruto da nossa velha mania de criar fronteiras. Do nosso pensamento “digital”: Aberto ou fechado, certo ou errado, galinha ou não galinha. Da pra imaginar, por exemplo, uma jovem mamãe Australoptecínea, de repente dando à luz a um filhinho Homo Eréctus? Porque é exatamente isso que a maioria das pessoas pensa quando vê a cadeia evolutiva que levou ao ser humano moderno, em um pensamento reverso que da prioridade à classificação artificial que inventamos apenas para facilitar a referência às diferentes espécies. Mas quando dizemos que um determinado indivíduo é um Australoptecus e outro é membro do gênero Homo, eles estão separados por incontáveis gerações. E os indivíduos que se encontram no meio formam uma cadeia de sucessivas e minúsculas diferenciações que se acumulam até que a separação de espécies aconteça. Então, fazendo uso desse pensamento por fronteiras, provavelmente a primeira 100% galinha é proveniente de um ovo colocado por uma 99,99(...)9% galinha. Mas como determinar exatamente o que é uma 100% galinha? Como saber que a galinha que eu comi ontem no almoço é idêntica às galinhas que eram comidas na idade média? Quem já visitou cidades históricas, já deve ter notado que a altura das portas das casas era bem menor, sugerindo que as pessoas eram, na média, mais baixas que são hoje. Isso já sugere uma mudança, mas ainda somos os mesmos Homo Sapiens que caminharam no século 18. Mas até quanto? E mais, até quando?
 
Qual o sentido da vida?
Já viram alguém perguntar qual o sentido da eletricidade? Ou qual o sentido da fusão nuclear? Para nós, que estamos vivos, a vida é sem dúvida a coisa mais importante que existe. E nós, seres vivos racionais, temos a tendência de buscar um sentido para tudo aquilo que fazemos. Dormimos porque precisamos descansar, trabalhamos para atingir realização financeira, social, intelectual. Tudo que é artificial tem um sentido e por isso tentamos atribuir um “sentido” também a este fenômeno natural extremamente raro que é a vida. Mas precisamos nos recolher à nossa humildade e reconhecer que, do ponto de vista do funcionamento do universo, a vida não tem a menor relevância. A vida, talvez a condição mais complexa da matéria desde a sua formação, é apenas um fenômeno periférico, como uma folha em uma arvore muito grande. Se arrancarmos uma folha da arvore, nada muda, em comparação com o corte de um galho mais antigo e massivo. Da mesma forma se a vida deixar de existir o universo atual não mudará em comparação a extirpação da força eletromagnética, por exemplo, um dos galhos principais que garante a existência de várias folhinhas, entre elas a da vida. Mas no geral, nos achamos tão importantes que extrapolamos nossa capacidade de racionalizar para o mundo à nossa volta, como se tudo precisasse ser fruto de um planejamento. Inclusive a própria vida.

 
Para onde vamos quando deixamos este mundo?
   
Um comediante e musico australiano chamado Tim Minchin escreveu mais ou menos assim em um poema: “Isto aqui não basta? Este lindo, supercomplexo e incomensuravelmente gigantesco mundo natural? Em que ele falha em prender nossa atenção? Porque precisamos acreditar em mitos e histórias de monstros?” Realmente muito estranho isso. Com um universo tão vasto, porque queremos que exista mais alguma coisa? Porque acreditamos que vamos “deixar” este mundo? Nós jamais deixaremos este mundo, a menos que esse mundo se desfaça e nos leve junto com ele pra outro lugar. Cada partícula elementar que forma nosso corpo esta por aqui desde que surgiu, sendo condensada, fundida e transformada em diversas coisas diferentes até vir passar uma curta temporada em nós. E depois continua por aqui, seguindo o sentido da seta da entropia. Mas e nossa consciência? E nossa capacidade de conjugar o verbo ser? Mais uma vez nosso egocentrismo típico nos faz acreditar que a consciência humana é tão importante que merece a existência de uma realidade inteira, paralela a essa, apenas para acolhê-la após a nossa morte. Mas de todas as cerca de trinta milhões de espécies vivas que já existiram na Terra, apenas umas três ou quatro desenvolveram o que chamamos de inteligência. Entre elas nós. E as demais provavelmente dentro do gênero Homo. Então, se a própria vida é um fenômeno raro e periférico, a consciência então e ainda mais carente de representatividade. E é só uma característica de alguns indivíduos vivos, tão relevantes quanto voar ou respirar embaixo d’água. Mas pra nós ela é tudo! E somos tão apegados a ela que não queremos admitir o fato de que iremos perdê-la para sempre, quando a fonte de energia para as reações químicas hiper-complexas que a compõe cessar para sempre com a nossa morte.
 
Quem criou o mundo em que vivemos?
 
Outro exemplo de como o nosso pensamento é restringido pelo egocentrismo. Nós, seres inteligentes, conscientes, temos a habilidade de criar. E essa criatividade é, para nós, muito óbvia e dominante. Nós perguntamos quem criou o telefone celular? Quem criou as viagens espaciais? E logo perguntamos quem criou o Império Romano do Oriente? Quem criou a linguagem escrita? E finalmente quem criou a Terra? Quem criou a Via Láctea? Achamos que só porque as coisas que nós usamos no dia a dia de nossas vidinhas foram criadas por alguém consciente, inteligente, achamos que as coisas naturais também precisam de uma inteligência consciente que as criem, para que existam. Porque, mais uma vez, achamos que a inteligência é uma coisa absoluta e necessária e não apenas uma característica biológica comum nossa. Mas porque algo precisa ter sido criado, de forma deliberada e planejada? Em nosso raciocínio limitado, esquecemo-nos de considerar que, para as coisas do mundo natural, o tempo não é problema. Precisamos de criatividade para criar um vaso a partir da argila em dois dias de trabalho. Mas as estrelas levam centenas de milhões de anos para se formarem a partir de nuvens de hidrogênio, se valendo de comportamentos inerentes à física deste universo. E só porque não sabemos como foi que tudo isso começou, não quer dizer que precisemos inventar uma explicação, muito menos uma explicação baseada em conceitos e características humanas, como se fossemos o maior objetivo da existência do universo.
 

 
Antes de decretar que uma pergunta não tem resposta, precisamos antes nos perguntar se não se trata de uma perguntassem sentido. Porque se nós, em nossa infinita ignorância, não somos capazes sequer de formular as perguntas, como esperamos conhecer as respostas? Somos tão moldados pelas nossas experiências, educação, convenções sociais, tendências religiosas, preconceitos e, principalmente por nosso ego gigantesco, quanto um cachorro é moldado e limitado pelo seu instinto irracional. A única maneira de conhecer o mundo a nossa volta é conhecendo primeiro a nós mesmos, identificando quais as nossas características que podem nos cegar durante as buscas. Quais os nossos limites físicos. Em que nosso pequeno cérebro é ineficiente e não equipado para interpretar as evidencias. O que eu preciso desenvolver em mim, primeiro, antes de dar um passo maior. Mesmo em nossa vida cotidiana, muitas vezes já partimos para uma busca achando que sabemos o que vamos encontrar e aí procuramos a coisa errada. E acabamos não achando coisa nenhuma. Porque “o grande aliado da ignorância é a presunção do conhecimento”.

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