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quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

O que aparecerá depois da névoa?


Já em adiantada leitura de um extraordinário livro do Ronaldo de Freitas Mourão, que comprei em um excelente sebo no Catete, me peguei fazendo notas de rodapé com minha lapiseira. De repente, entretanto, percebi a disparidade da minha ousadia. Trata-se, "apenas", daquele que pode ser o maior astrônomo da história brasileira, fundador do Museu de Astronomia e Ciências Afins.  O que teria eu a acrescentar às conclusões de um verdadeiro campeão da ciência? A obra em questão se chama "O universo inflacionário" e é particularmente belíssima pela simplicidade e sobretudo a acessibilidade com que discorre sobre a dinâmica de nosso universo, de forma que mesmo um leigo como eu é capaz de compreender e ser absorvido pela leitura. Ocorre, porém, que a edição que leio é de 1983 e, de lá para cá, muita coisa foi descoberta e as dúvidas que antes tinham ares de mistério, mesmo para um escritor do calibre de Mourão, agora são de domínio de uma pessoa tão comum como eu.

O livro fala dos intrigantes "Quasares", objetos que estavam muito além das galáxias mais distantes do cosmo. Ora, hoje sabemos que os Quasares são apenas a visualização direta e perpendicular do jacto de partículas e radiação que é regurgitado pelos buracos negros supermassivos, presentes no núcleo de quase todas as galáxias. Fala também da estranheza da dinâmica dos braços das galáxias espirais, sem levar em consideração a interação gravitacional com a matéria escura. Ele, esperançoso, cita o lançamento iminente do telescópio espacial, que poderia elucidar como se interagem os superaglomerados de galaxias. hoje, após varios observatórios espaciais (Hubble, Spitzer, Chandra, Kepler, etc), projetos de mapeamento global do cosmos (Galaxi Survey, GALEX, etc) e poderosas simulações computacionais (como a Milenium), já se conhece a grande teia cósmica, com os grandes superclusters grudados em filamentos e nós pela atração "viscosa" da matéria escura.

Um dia, a chuva já foi um grande mistério, atribuído a divindades e implorada por meio de sacrifícios de animais e pessoas, antes de conhecermos o ciclo da água e os caprichos da meteorologia. Até pouco tempo, a força gravitaional, quando aplicada através do vácuo do espaço, perturbava a física de Newton, levando ao conceito equivocado do "eter". Hoje, depois da Relatividade Geral, conhecemos a geometria variável do espaço tempo e sua interação com os corpos massivos. Hoje, quando pegamos nosso caderno de calculo do primeiro período, poderemos achar fáceis os exercícios que nos tiravam o sono na época. Mesmo sem nunca mais termos praticado. Hoje as crianças parecem muito mais espertas do que fomos nos anos 80, sem os canais a cabo, os videogames sem joystick e os tablets. Quanto mais caminhamos para frente, mais a névoa se afasta, e mais horizonte aparece em nosso campo de visão.

Mesmo as nossas mais inabaláveis certezas e medos, podem um dia não passar de fantasias infantis do passado. Basta imaginar o quão maior será nossa capacidade de ver e entender. Como nossas experiências irão mudar nossa visão? até onde passaremos a enxergar? Só saberemos se abandonar-mos o conforto da privilegiada posição que ocupamos, de onde podemos ver tudo até a névoa lá adiante e caminhar em direção a ela. Caminhar para o desconhecido. Se perder faz parte do processo de se encontrar e encontrar seu lugar cada vez mais próximo da verdade. Apenas pela ousadia, ultrapassamos o nevoeiro da ignorância.

Um comentário:

  1. Nossaaaaaaaaaaaaaaa, disse tudo. É o que espero, "caminhar para o desconhecido. Se perder faz parte do processo de se encontrar....",que assim seja.
    Amo vc!

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